BBC Lê – "A herdeira raptada que se aliou a seus sequestradores para 'lutar por povos oprimidos'"
Data: 18 de novembro de 2025
Host: BBC Brasil
Narradora: Mônica Vasconcelos
Baseado em reportagem de 11 de outubro de 2025, BBC News Brasil
Duração do conteúdo essencial: [01:08]–[24:43]
Visão Geral
Este episódio narra a impressionante história de Patricia Hearst, herdeira de uma das famílias mais poderosas dos Estados Unidos, que, após ser sequestrada pelo grupo revolucionário Symbionese Liberation Army (SLA), surpreendeu o país ao se aliar a seus próprios sequestradores. Entrelaçando os fatos que transformaram a jovem de refém a fugitiva, a reportagem questiona: Patty Hearst foi vítima de lavagem cerebral ou agente consciente de seus atos? O caso, repleto de reviravoltas, revela os dilemas e traumas por trás de uma das sagas mais controversas dos anos 1970.
Principais Pontos e Discussões
1. O Sequestro de Patricia Hearst
- [01:15] Patricia, com 19 anos, é sequestrada por três ativistas armados do SLA em fevereiro de 1974, em Berkeley, Califórnia.
- Destino: confinada durante 57 dias, sendo ameaçada e mantida em isolamento extremo.
Memorável:
"Mãe, pai, estou bem... Peguei um resfriado, mas me deram remédio. Não estou passando fome. Não estão batendo em mim, nem me aterrorizando desnecessariamente."
— Patty Hearst, gravação dos sequestradores ([01:22])
- O caso rapidamente ganha notoriedade por envolver a neta do magnata da mídia William Randolph Hearst.
2. O Symbionese Liberation Army (SLA) e o Contexto Político
- [03:00] O SLA é apresentado como grupo radical de esquerda, inspirado por movimentos revolucionários dos EUA e América Latina, surgido em meio à crise econômica e protestos contra a guerra.
- Donald DeFreeze, líder do SLA, surge como a figura carismática e militante.
"Saudações ao povo e camaradas, irmãos e irmãs..."
— Donald DeFreeze/Sin Kyum Tumi, líder do SLA ([06:03])
- Motivações do SLA: denunciar a família Hearst como símbolo da elite e exigir reformas sociais radicais.
3. Os Exigências do SLA e O Resgate
- [07:15] O grupo exige um resgate inusitado: um programa de distribuição de alimentos para milhões de pessoas.
"Como alguém pode discordar do desejo de que pessoas famintas recebam comida?"
— Patty Hearst, entrevista de 1975 nunca antes divulgada ([08:46])
- A logística se revela um desastre, gerando tumultos e violência durante a tentativa de distribuição.
4. Transformação de Patty: Da Refém a Guerrilheira
- [11:00] Sinais de mudança no tom de Patty Hearst aparecem nas gravações enviadas pelos sequestradores.
- Dois meses após o sequestro: Patty grava nova mensagem, declara ter se aliado ao SLA e adota o nome "Tânia".
"Escolhi ficar e lutar."
— Patty Hearst ("Tânia") ([13:22]) "Você é um mentiroso e como um membro da classe dominante, eu sei que os seus interesses... nunca são os interesses do povo."
- O público, antes solidário, começa a vê-la como traidora.
Comentário:
"Ela disse as coisas mais absurdas. Que seu pai era membro da conspiração para gerar a crise energética... Para muitos, era como se ela tivesse sido possuída."
— Rick Perlstein, historiador e jornalista ([14:47])
5. Assalto ao Banco e Caçada Policial
- [16:00] Patty, agora Tânia, participa de um assalto a banco em São Francisco – imagens dela armada chocam o mundo.
- O SLA foge para Los Angeles, mas acaba cercado pela polícia. Um tiroteio é transmitido ao vivo; seis militantes morrem, mas Patty não está entre eles.
Tensão:
"A principal preocupação era que Patricia estivesse na casa... assistia a tudo, chocada e horrorizada."
— John Lester, porta-voz da família Hearst ([18:35])
- Patty grava nova mensagem após o massacre:
"Eu morri naquele incêndio na rua 54, mas das cinzas renasci... Renunciei ao meu privilégio de classe quando o CQ me deu o nome de Tânia."
— Patty Hearst/Tânia ([20:09])
6. Pós-Tiroteio: "O Ano Perdido"
- [20:53] Após a fuga para o leste e depois o retorno à Califórnia, Patty se distancia do SLA principal e entra em contato com correntes radicais independentes.
- Rick Perlstein aponta:
"Talvez ela seja ou não membro ativo do SLA, mas com certeza está se tornando integrante ativa da esquerda radical... nessa fase, Hearst tem total autonomia." ([21:30])
7. Prisão, Julgamento e Reflexões Sobre Síndrome de Estocolmo
- Patty é presa em setembro de 1975; o julgamento é chamado de "o julgamento do século".
- Debate jurídico e público intenso sobre se ela foi vítima ou cúmplice.
"Disseram que ela tinha sido vítima da Síndrome de Estocolmo, mas isso é muito difícil de provar."
— Linda Doit, jornalista ([22:14])
- Condenada a sete anos, cumpre apenas dois; ganha liberdade condicional concedida por Jimmy Carter e perdão completo de Bill Clinton.
8. O Que Patty Disse Depois: Memória, Medo e Identidade
- Trechos de entrevista a Channel 4 em 1996:
"Sim, quando eles disseram, roube um banco ou vamos te matar, eu falei, ok."
— Patty Hearst ([23:05])
"Porque quanto mais eles trabalham em você, quanto mais eles torturam você, quanto mais você finge que está do lado deles, mais aquilo vai se tornando uma realidade para você. [...] Eu simplesmente não conseguia lembrar."
— Patty Hearst ([23:29])
"Você não tem noção de quão frágil você é."
— Patty Hearst ([23:58])
- Testemunho de Mike Borton, membro do SLA:
"Eu acho que ela achava que acreditava naquilo. Era como aquele zelo dos recém-convertidos. Mas era muito superficial... às vezes tenho vontade de que alguém me sequestre de novo, me tire daqui." ([24:10])
9. Últimas Reflexões
- Benjamim Rum, apresentador do Archive on 4:
"Hearst aprendeu a imitar seus sequestradores para poder sobreviver. Mas adotou aquela personagem com tanta fluência que já não se distinguiam a parte real da parte criação." ([24:35])
Momentos Memoráveis – Citações e Timestamps
- "[01:22] Mãe, pai, estou bem... Não estão batendo em mim, nem me aterrorizando desnecessariamente." — Patty Hearst
- "[06:03] Saudações ao povo e camaradas, irmãos e irmãs..." — Sin Kyum Tumi/Donald DeFreeze
- "[08:46] Como alguém pode discordar do desejo de que pessoas famintas recebam comida?" — Patty Hearst
- "[13:22] Escolhi ficar e lutar." — Patty Hearst ("Tânia")
- "[20:09] Eu morri naquele incêndio na rua 54, mas das cinzas renasci... Renunciei ao meu privilégio de classe..." — Patty Hearst/Tânia
- "[23:05] Sim, quando eles disseram, roube um banco ou vamos te matar, eu falei, ok." — Patty Hearst
- "[23:29] ...quanto mais eles trabalham em você... mais aquilo vai se tornando uma realidade para você." — Patty Hearst
- "[23:58] Você não tem noção de quão frágil você é." — Patty Hearst
Conclusão
O episódio lança luz sobre os limites da resistência humana, as ambiguidades da identidade sob coação e o contexto turbulento dos Estados Unidos nos anos 1970. O caso Patty Hearst permanece um mistério: vítima ou agente? Entre depoimentos emocionantes e análises históricas, ouvintes são convidados a refletir sobre o poder da mente e o impacto devastador do sequestro e da radicalização.
