O Assunto – A Economia Agora e as Perspectivas para 2026 (5 de Dezembro de 2025)
Visão Geral do Episódio
Neste episódio especial do podcast O Assunto, em comemoração aos 5 anos do programa, o jornalista Vitor Boiadjan entrevista Samuel Pessoa (doutor em economia pela USP, pesquisador do BTG Pactual e da FGV/IBRE). O foco é o panorama atual da economia brasileira após a divulgação dos resultados do PIB do terceiro trimestre de 2025, as razões para divergências entre previsões e desempenho real, as perspectivas diante das políticas fiscal e monetária, e os grandes desafios para 2026, incluindo o cenário eleitoral e internacional.
Principais Pontos e Insights
1. Desempenho Recente da Economia Brasileira
- O PIB do terceiro trimestre de 2025 teve aumento de 0,1%, consolidando uma alta próxima de 2% no acumulado do ano. Isso indica desaceleração do crescimento, reflexo dos efeitos da política monetária (juros altos).
- "É um sinal de desaceleração da economia, ou seja, a política monetária está fazendo o seu serviço." – Samuel Pessoa [02:56]
- Surpresas nos setores: Serviços cresceram menos do que o esperado, enquanto indústria e agropecuária surpreenderam positivamente [00:32].
- Inflação caiu do pico de 5,5% em abril para 4,5%, alinhando-se ao teto da meta do Banco Central [00:59].
- Taxa de desemprego atingiu mínima histórica (5,4%) e renda média do trabalhador foi recorde, indicando mercado de trabalho aquecido [01:34].
2. Por que as previsões econômicas têm errado sistematicamente?
- Economistas subestimaram o ritmo de recuperação pós-pandemia, o impacto das reformas (2015-2021) e o efeito do aumento dos gastos públicos nos últimos 3 anos [04:15].
- "Os economistas foram bem mal nos quatro anos terminados do ano passado [...] foram erros sistemáticos." – Samuel Pessoa [04:15]
- As reformas estruturais (trabalhista, previdenciária, sanitária e tributária) aumentaram o PIB potencial, permitindo crescimento sem pressões inflacionárias excessivas [05:08].
- "O terceiro mandato do presidente Lula vai deixar uma boa herança, que é a reforma tributária, que todos os economistas avaliam, que elevará a capacidade de crescimento da produtividade nas próximas décadas." – Samuel Pessoa [06:05]
3. Política Monetária e Fiscal: Juros, Gastos e Inflação
- A política monetária (Selic em 15%) foi muito contracionista devido ao expansionismo fiscal dos últimos anos [08:11 – 11:27].
- Expectativa do início do ciclo de queda de juros a partir de janeiro de 2026, caso a desaceleração persista.
- "Eu imagino que em janeiro de 2026 [...] se nós estivermos certos e, de fato, no quarto trimestre a economia recuar a 0,1, o Banco Central saberá [...] que a economia está [...] desacelerando solidamente." – Samuel Pessoa [08:33]
- O gasto primário federal cresceu fortemente no triênio 2022-2024, mas deve aumentar menos em 2025 e cerca de 3% em 2026 [10:22].
- Não houve ajuste efetivo nos gastos, parte sendo deixada "fora do arcabouço fiscal", contribuindo para a preocupação das agências de risco (Mudes rebaixou perspectiva de crédito para "estável") [11:27].
- A surpresa positiva na inflação (4,4% vs. expectiva de 6%) se deve a (a) desvalorização do dólar; (b) safra agrícola recorde; (c) impacto dos juros no ciclo pecuário; e (d) dinâmica nova no mercado de trabalho, que reduziu a chamada "taxa natural de desemprego" [12:25 – 19:42].
- "[...] apesar do mercado de trabalho estar muito apertado, apesar da taxa de desemprego ser muito baixa, nas mínimas históricas, a inflação de serviços não está explodindo." – Samuel Pessoa [17:35]
4. Transformações Estruturais no Mercado de Trabalho
- A reforma trabalhista, envelhecimento populacional, melhor escolarização e a expansão de ocupações via aplicativos (Uber, iFood) flexibilizaram e reduziram a fricção do mercado de trabalho [20:46].
- "Houve uma quebra estrutural no mercado de trabalho [...] a taxa natural de desemprego, que era alguma coisa próxima de 10, ela caiu 3 pontos percentuais, aparentemente." – Samuel Pessoa [20:46]
- Bolsa Família mais robusto começa, mais recentemente, a mostrar algum efeito negativo sobre a disposição ao trabalho em certos grupos demográficos, mas ainda sob estudo [20:46].
5. Perspectivas para 2026 – Gastos, Eleições e Cenário Internacional
- Ano eleitoral antecipa cronograma de execução do gasto público; emendas parlamentares já garantidas para o primeiro semestre reforçam "gastança" [24:17].
- O gasto primário real deve crescer 3% em 2026, interrompendo tendência de desaceleração.
- Projeção de corte lento na Selic: de 15% para 12% até o fim de 2026. Juro real continuaria elevado, mantendo política monetária contracionista [25:30].
- Retomada mais intensa da queda dos juros pós-2026 dependerá do ajuste fiscal promovido pelo governo eleito em 2027.
- No cenário externo, possível desaceleração extra dos EUA poderia forçar Fed a cortar juros antes do previsto, o que seria positivo para o Brasil, mas a "ajuda" internacional deve ser menor em 2026 [27:12].
- "O mundo nos ajudou muito esse ano com toda essa desinflação produzida pela desvalorização do dólar contra todas as moedas. Acho que o ano que vem a gente não vai ter a mesma ajuda." – Samuel Pessoa [27:48]
6. Meta Fiscal de 2026 e Solidez das Contas Públicas
- Governo mantém otimismo sobre atingir, pela primeira vez no arcabouço fiscal, um pequeno superávit primário. Samuel, porém, projeta que despesa x receita deve produzir ainda um déficit de 0,4% do PIB [28:38].
- "Não, porque a gente acha que a meta vai ser atendida quando a gente considera no primário todas as isenções, as exceções, a gente vai chegar num déficit de 0,4% do PIB." – Samuel Pessoa [28:38]
- Problema fiscal persistente será herança para o próximo governo e debates na eleição de 2026.
7. Recordes na Bolsa de Valores e o Futuro dos Investimentos
- Alta recente na bolsa americana parece descolada dos fundamentos; já na brasileira, há mais fundamentos, mas continuidade do "rali" dependerá de avanços reais no ajuste fiscal após eleições [31:05].
- "A bolsa brasileira está muito barata. [...] O movimento da bolsa brasileira tem fundamento." – Samuel Pessoa [31:58]
- "Eu não vejo um espaço muito grande para continuar esse rali, a menos que nos próximos meses a gente tenha alguma informação mais clara e positiva de como [a política] vai lidar com esse desequilíbrio [...] nas contas públicas." – Samuel Pessoa [32:15]
Notas e Momentos Memoráveis
- "[...] o desempenho que nós tivemos na pandemia foi significativamente superior. A economia brasileira foi bem na pandemia." – Samuel Pessoa [04:45]
- "O Banco Central tem praticado juros muito altos durante muito tempo porque a política fiscal tem sido muito expansionista." – Samuel Pessoa [09:41]
- "No Brasil, há 20 anos atrás [a taxa natural de desemprego] era em torno de 10%, hoje [...] está mais próxima de 7%." – Samuel Pessoa [18:55]
- "[...] Teremos um juro real de 8% no final do ano que vem, que ainda é uma taxa de juros que coloca a política monetária num terreno contracionista." – Samuel Pessoa [25:30]
Timestamps de Segmentos Importantes
- 00:13–02:14 – Atualização do PIB, inflação, mercado de trabalho e renda
- 02:36–06:32 – Balanço da performance econômica e previsões
- 06:32–07:03 – Efeitos da reforma tributária no crescimento de longo prazo
- 08:11–12:17 – Discussão política monetária, fiscal e expectativas para Selic
- 12:25–17:35 – Surpresas na inflação e fatores estruturais
- 20:46–23:18 – Transformações no mercado de trabalho
- 23:52–24:17 – Liberação de emendas e ano eleitoral
- 27:12–28:38 – Interação com o cenário internacional e expectativas fiscais
- 30:50–32:15 – Mercado de capitais e dependência do ajuste fiscal pós-eleições
Conclusão
O episódio entrega uma análise detalhada do estado atual e das perspectivas da economia brasileira de forma clara, com Samuel Pessoa abordando as peculiaridades do ciclo recente, explicando erros sistemáticos de previsão do PIB e inflações, o papel das reformas e dos programas sociais, além de avaliar o impacto das eleições e do contexto internacional sobre o futuro econômico e os ativos brasileiros.
Para quem deseja entender as chances, riscos e desafios no horizonte econômico até 2026, esta conversa oferece um resumo acessível e atualizado, inclusive para quem perdeu o episódio completo.
Resumo por: O Assunto / G1
