O Assunto — “A fraude bilionária no Banco Master”
Data: 19/11/2025
Host: Ana Tuzaneri (G1)
Convidados: Estevam Tayar (coordenador de economia do Valor Econômico, Brasília), Fernando Torres (editor executivo do Valor Econômico)
Tema: Um mergulho na ascensão meteórica e na queda escandalosa do Banco Master — fraude na casa dos 12 bilhões de reais, desdobramentos para o sistema financeiro brasileiro e impactos para investidores e fundos públicos.
Visão Geral do Episódio
O episódio detalha os acontecimentos e investigações sobre a fraude bilionária que resultou na prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, e na liquidação extrajudicial da instituição. Com jornalistas especializados e análise de contexto político e financeiro, o programa explica a trajetória do banco, os mecanismos fraudulentos usados e os impactos para investidores, fundos públicos e para o sistema financeiro do Brasil.
1. O Caso Banco Master: Prisão, Fraude e Tentativas de Venda
- Contexto da prisão e da investigação
- Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, é preso ao tentar fugir para Malta, Europa, por meio do Aeroporto de Guarulhos. (00:17–00:27)
- A Polícia Federal (PF) aponta suspeitas de fraudes de R$12 bilhões, organização criminosa, gestão fraudulenta e temerária. (00:27–00:43; 03:47)
- Prisão acontece no mesmo dia em que um consórcio liderado pela Fictor Holding Financeira, com investidores dos Emirados Árabes Unidos, anuncia proposta de compra do Master — segunda tentativa de venda frustrada, sendo a primeira para o estatal BRB. (00:50–01:26)
Quote:
“A prisão aconteceu na noite da segunda-feira, horas depois de ter sido anunciada uma proposta para comprar o banco.”
— Ana Tuzaneri (00:43)
2. Ascensão Rápida e Relações Políticas
Quem é Daniel Vorcaro? (02:51–05:24)
- Jovem empresário mineiro, 42 anos, “outsider da Faria Lima”.
- Origem na construção civil; adquire o Banco Máxima (depois Banco Master) em 2017, com autorizações só concluídas em 2019.
- Notório por ampliar conexões com todo o espectro político— direita e esquerda, envolvendo nomes como Ciro Nogueira (PP), Rui Costa (Casa Civil), Ibaneis Rocha (DF) e investimentos vultosos de fundos públicos.
Quote:
“Ele se vinculou a políticos de direita e de esquerda, não parecia ter muita ideologia... um caso muito impressionante de subida meteórica, que normalmente no Brasil não acontece sem conhecer as pessoas certas.”
— Ana Tuzaneri (05:24)
3. Estratégia de Crescimento Agressivo e Risco Sistêmico
Como o Master cresceu tanto, tão rápido? (07:16–10:30)
- Em 5 anos, patrimônio líquido passou de R$219 milhões para quase R$5 bilhões.
- Estratégia baseada em captar depósitos com CDBs pagando juros muito acima do mercado (em torno de 140% do CDI).
- O crescimento era lastreado pelo uso intensivo do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre até R$250 mil por CPF/CNPJ.
- O Master emitia muitos CDBs cobertos pelo FGC, transferindo o risco para o sistema financeiro como um todo.
Quote:
“Eles pagavam uma média de 140% do CDI... Isso atraiu muitos investidores, mas começou a chamar atenção por causa do risco.”
— Estevam Tayar (08:33)
Impacto no FGC
- 1,6 milhão de investidores podem ser afetados; estimativa de R$41 bilhões a serem pagos, maior resgate da história do FGC. (11:13)
4. Fraudes e Operações Questionáveis
Investigações Revelam:
- Banco fabricava créditos falsos para justificar operações junto ao BRB, chegando a R$12 bilhões em créditos fictícios. (16:12)
- O banco simulava ter aplicado recursos em ativos inexistentes—usando empresas como a Tirreno para criar a aparência de liquidez.
- O BRB (Banco de Brasília) comprou esses créditos falsos, injetando dinheiro no Master e ampliando a crise sistêmica.
Quote:
“O Master estava fabricando, criando créditos falsos na casa de 12 bilhões de reais, para o BRB, para justificar a operação.”
— Estevam Tayar (16:12)
“Para passar ao mercado a impressão de que não tinha problema de liquidez, o Master simulou ter aplicado parte dos 50 bilhões de reais em ativos que não existem, comprando créditos fictícios... e logo em seguida vendeu esses ao BRB.”
— Representante da PF (16:45)
5. Falhas de Supervisão e Estruturas Opacas
- Banco Central (BC) demorou para agir? (19:17–22:14)
- O BC colocou limitações para o uso do FGC e para concentração de certos ativos arriscados, mas essas medidas foram lentas ou permitiram adaptações que não barraram o crescimento do Master.
- O Master aproveitava brechas regulatórias, muitas vezes canalizando operações duvidosas via fundos de investimento próprios, dificultando a fiscalização (“estrutura em cascata”).
Quote:
“Eu tendo a achar que o Banco Central demorou um pouco para agir... O banco já estava talvez grande demais.”
— Fernando Torres (19:17)
6. Desfecho: Liquidação e Impactos para Investidores e o Sistema
Liquidação Extrajudicial e Funções do FGC (24:08–26:28)
- O BC decreta liquidação extrajudicial do Master e outras empresas do grupo; nomeação de liquidante para apurar ativos reais e repassar lista de credores ao FGC.
- O banco “deixa de existir”—medida para preservar o sistema financeiro nacional.
- O FGC cobre até R$250 mil por CPF/CNPJ; investidores institucionais, como fundos de pensão, ficam na dependência da liquidação dos ativos restantes.
Quote:
“Se você tinha até 250 mil reais, incluindo os rendimentos, desse período, até a data de ontem, você deve receber esse dinheiro de volta...”
— Fernando Torres (26:01)
7. Consequências para Fundos Públicos e Estados
- Fundos de pensão e previdência estaduais/corporativos (como Rio Previdência) podem ter perdas relevantes; pagamentos de benefícios permanecem assegurados, mas há prejuízo bilionário. (27:41)
8. Reflexões Finais e Possíveis Mudanças Regulatórias
- Necessidade de revisão das regras para fundos de investimento e melhor integração de fiscalização entre Banco Central e CVM.
- Expectativa de maior rigor da supervisão sobre estruturas financeiras opacas.
Quote:
“Essas estruturas, elas são difíceis de ver, elas são opacas mesmo. Talvez venha alguma novidade por aí no Banco Central querer puxar a regulação de fundos de volta para ele.”
— Fernando Torres (22:14)
Tópicos-Chave & Timestamps
- Introdução ao caso Banco Master e prisão de Daniel Vorcaro: 00:02–02:17
- Ascensão de Daniel Vorcaro e ligações políticas: 02:51–05:24
- Estratégias financeiras arriscadas do Master: 07:16–10:30
- Risco sistêmico e papel do FGC: 10:30–12:25
- Fraudes e vendas fictícias de ativos: 16:12–16:45
- Por que o BC demorou a agir?: 19:17–22:14
- Liquidação do banco, impacto nos investidores: 24:08–28:15
Memoráveis e Notáveis
- “Crônica de uma tragédia anunciada” — Estevam Tayar resume o sentimento de que o mercado já esperava o colapso do banco, apenas não conhecendo a dimensão da fraude (01:57).
- Explicação didática sobre o funcionamento de CDBs, FGC e por que o risco do Master afetava todo o sistema (“Eles pagavam ali, varia, mas uma média de 140% do CDI” — 08:33).
- Situação dramática dos investidores institucionais — grandes fundos podem perder somas altas, acentuando a necessidade de atualização regulatória.
Conclusão
O episódio oferece um olhar amplo e acessível sobre o escândalo do Banco Master, explorando não só a fraude, mas também os buracos do sistema financeiro e as lições para investidores e as autoridades regulatórias. Revela o quanto relações políticas, estratégias de crescimento acelerado e brechas institucionais contribuíram para a maior fraude bancária dos últimos anos no Brasil, afetando desde pequenos poupadores até fundos públicos bilionários.
